Em um país como os Estados Unidos, aparentemente a terra
da liberdade, o que existe, na verdade, são territórios restritos, demarcados
por cada etnia aí representada, compondo um caldeirão étnico-cultural em
constante ebulição. Todas as tribos acalentam a ilusão de ter que lutar contra
o outro; sempre há um inimigo à espreita, o alvo de perseguições do momento. É
neste cenário caótico que a Professora Erin Gruwell, filha de um antigo
defensor dos direitos civis durante os distúrbios raciais sérios que abalaram a
cidade de Los Angeles, na Califórnia, em 1992, se vê diante do desafio de
educar um grupo de alunos aceito compulsoriamente na Escola Wilson, após a
criação de uma lei de integração racial, aprovada pela Secretaria de Educação. Nesta
classe do primeiro ano colegial, brancos, negros, hispânicos e asiáticos são
obrigados a conviver no mesmo espaço. Na própria sala de aula, a de número 203,
eles criam pequenos guetos, com fronteiras bem estabelecidas. Recém-graduada,
Erin, magnificamente interpretada por Hilary Swank, chega à escola repleta de
sonhos e ideais românticos. Previsivelmente, ela é recepcionada por uma
realidade completamente diferente da que imagina; aí ela não encontra ativistas
sociais, mas sim uma juventude completamente marginalizada; não se depara com
professores e diretores liberais e dispostos a acolher a nata da alteridade; ao
invés disso, tem diante de si um universo preconceituoso e resistente. A
própria disciplina que lhe cabe lecionar, a língua e a literatura inglesa,
parece deslocada diante deste contexto. Como impor a esta esfera multirracial,
composta por grupos aparentemente tão diversificados e distintos, uma linguagem
considerada estrangeira por eles e, mais que isto, um instrumento de
manipulação política? Em seu primeiro dia de aula Erin já se depara com uma
antevisão do universo violento e caótico que a aguarda. A escola, que já havia
sido um centro de excelência e agora testemunha a perda de seus ‘melhores
alunos’, depois do ingresso de alunos que, para os demais professores e
profissionais do Instituto Wilson representam a escória da sociedade, se
transformou em cenário de constantes combates de gangues. Esta surpreendente
história, transposta para o cinema pelo diretor Richard Lagravenese, se baseia
em fatos reais, retratados no livro-diário dos Escritores da Liberdade,
publicado em 1999, a partir dos diários desenvolvidos pelos jovens, estimulados
por Erin a representar nestes cadernos suas trajetórias existenciais. Aos
poucos, estes textos despertam nos estudantes uma visão diferente do outro, até
então visto apenas como o inimigo. Eles percebem que, entre eles, há mais
coisas em comum do que poderiam imaginar.
Nº19
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